O intestino humano possui uma função essencial além da digestão: atuar como uma barreira seletiva que protege o organismo. A parede intestinal permite a absorção dos nutrientes enquanto bloqueia a passagem de toxinas, vírus, bactérias e outras partículas potencialmente nocivas.
Essa função é garantida principalmente pelas "junções estreitas" entre as células intestinais, chamadas enterócitos. Essas junções funcionam como “portões” que controlam rigorosamente o que pode entrar na corrente sanguínea e o que deve ser bloqueado.
Quando a permeabilidade intestinal aumenta, ocorre uma falha nesse sistema de controle, permitindo que substâncias indesejadas atravessem a barreira intestinal e cheguem ao sangue. Essa condição é comumente referida como "intestino permeável". Esse aumento de permeabilidade está associado ao surgimento de várias doenças, especialmente quando há predisposição genética. Entre as condições associadas, destacam-se doenças autoimunes como a doença celíaca, diabetes tipo 1, artrite reumatoide e outras inflamações crônicas, além de cânceres e distúrbios neurológicos como a esclerose múltipla e o autismo.
O Papel da Zonulina
A zonulina, uma proteína reguladora, é o único modulador fisiológico conhecido das junções intercelulares do intestino. Quando é liberada em excesso, ela relaxa essas junções, aumentando a permeabilidade intestinal. Estudos apontam que a gliadina (uma proteína do glúten) e certos microrganismos intestinais são gatilhos conhecidos para a liberação excessiva de zonulina, afetando tanto pessoas com predisposição genética, como os celíacos, quanto aqueles sem essa predisposição.
Esse aumento de permeabilidade permite que substâncias tóxicas entrem no organismo, ativando o sistema imunológico de forma inadequada e desencadeando uma inflamação generalizada. Essa resposta crônica pode levar ao desenvolvimento de várias doenças sistêmicas que, até recentemente, não eram associadas ao intestino.