Imagine esta cena: você já perdeu as contas de quantos consultórios médicos visitou. A pilha de exames — ultrassom, endoscopia, colonoscopia — só aumenta, e todos carimbam o mesmo veredito: "Nada de anormal". Mas aí está você, com aquele incômodo teimoso que aperta depois do almoço, a dor de barriga que volta como um relógio maldito, e a pergunta que não cala: "Por que nada dá certo, se tudo 'parece' estar bem?"
Se essa história soa familiar, respire fundo. Você não está inventando sintomas. Não é "frescura". Nem tudo que não aparece nos exames deixa de existir. Talvez seu corpo esteja gritando o que os laudos não capturam: a tal da Síndrome do Intestino Irritável (SII) — uma condição invisível, mas muito real.
A SII é como um interruptor desregulado: o intestino decide funcionar no modo "turbo" (diarreia), trava completamente (prisão de ventre) ou simplesmente entra em curto-circuito (dor e inchaço que não combinam com nada). E o pior? Ela adora camuflagem. Não aparece em exames de imagem, não deixa rastros no sangue, mas transforma refeições em roleta-russa: "Será que hoje vou pagar o preço por aquele café?".
Se você se reconhece nessa gangorra, saiba que não está sozinho. A SII é mais comum do que se imagina, mas vive nas sombras — muitas vezes ignorada até por profissionais, que tratam como "só estresse". Mas quem convive com ela sabe: é real, é fisicamente desgastante, e merece cuidado sem julgamentos.
P.S.: Às vezes, o que não aparece no papel é justamente o que mais precisa de atenção. Se seu corpo fala uma língua que os exames não traduzem, talvez seja hora de procurar quem entenda do assunto. ;)
🩺 Dor de barriga? E o que é a SII?
A Síndrome do Intestino Irritável é uma disfunção do eixo intestino-cérebro. Isso significa que ela não é causada por uma inflamação estrutural, tumor ou infecção visível, mas sim por alterações na forma como seu intestino funciona, sente e reage.
Segundo os critérios de Roma IV, o diagnóstico pode ser feito quando o paciente apresenta:
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Dor abdominal recorrente por pelo menos 1 dia na semana nos últimos 3 meses, associada a:
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Alterações na frequência das evacuações;
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Alterações na forma das fezes (muito duras ou muito amolecidas);
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Alívio parcial da dor após evacuar.
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🍞 E o glúten com isso?
A medicina tradicional muitas vezes ignora a sensibilidade não celíaca ao glúten — mas, na minha prática clínica, ela está presente em um número crescente de pacientes com SII.
E por que isso tem aumentado tanto?
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O pão de hoje não é mais o pão de antigamente. O uso de fermentação química industrial, que substituiu os fermentos naturais (como o levain), muda drasticamente a digestibilidade do trigo. Isso resulta em maior presença de peptídeos inflamatórios no intestino.
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Aumentou a exposição ambiental a toxinas. Agrotóxicos, metais pesados, antibióticos na carne e nos alimentos industrializados impactam diretamente na nossa microbiota intestinal.
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Vivemos em uma sociedade doente mentalmente. Ansiedade, estresse crônico, depressão e a constante comparação social via redes sociais afetam diretamente o intestino — afinal, ele é nosso “segundo cérebro”.
🔬 O que está acontecendo dentro de você?
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O intestino da pessoa com SII não inflama como em uma doença de Crohn, mas também não é 100% saudável;
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O sistema nervoso entérico (o cérebro do intestino) responde de forma exagerada a estímulos normais, como gases ou fermentação de certos alimentos;
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Há alteração da motilidade intestinal, do processamento da dor e da composição da microbiota intestinal;
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E, claro, há uma perda de tolerância alimentar — um pequeno pão pode ser suficiente para desencadear sintomas.
🧭 Qual o caminho?
Em vez de apenas receitar remédios para “diminuir a dor”, nós precisamos tratar a raiz do problema.
O tratamento que ofereço em minha prática inclui:
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Mudanças alimentares individualizadas;
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Avaliação da sensibilidade ao glúten, lactose e FODMAPs;
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Estímulo à fermentação natural dos alimentos;
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Uso criterioso de probióticos e fitoterápicos;
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Estratégias para regular o eixo cérebro-intestino, como mindfulness, caminhada, sono de qualidade e manejo do estresse;
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E o mais importante: escuta e acompanhamento humanizado.
📈 Tendência que o Google já percebeu
Dados recentes do Google Trends mostram um aumento expressivo nas buscas por “dor de barriga” no Brasil — especialmente no Nordeste e Centro-Oeste. Isso reflete exatamente o que vejo no consultório todos os dias.
A população está sentindo na pele (e no intestino) os reflexos de um estilo de vida que não respeita o ritmo do corpo. E é aí que entra a Medicina do Estilo de Vida e Funcional, que proponho como uma nova forma de cuidar.
🗣️ Concluindo...
A dor não é frescura. O intestino não mente. E o seu corpo está gritando por ajuda.
Se você sofre com sintomas digestivos recorrentes, talvez esteja na hora de olhar com carinho para sua alimentação, seu estilo de vida e sua saúde emocional.
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📌 Este artigo é apenas informativo e não substitui o acompanhamento com um profissional de saúde.