Imagine que seu corpo tem um segurança chamado hepcidina. Ele controla o ferro, decidindo quanto vai para o sangue e quanto fica guardado nas células. Até aí, tudo bem. Mas, em quem tem psoríase, acontece um bug: a pele inflamada produz hepcidina demais.

Resultado? O ferro fica acumulado nas células da pele. E adivinha o que isso faz:

  • As células da pele começam a se multiplicar loucamente (daí as lesões grossas).

  • O corpo manda células de defesa (como neutrófilos) para o local, achando que há um problema. Só que isso só piora a inflamação.

Ou seja, a hepcidina, que deveria ajudar, vira um sabotador. E o pior? Essa produção extra não vem do fígado (como se pensava), mas da própria pele.

Glúten: O Inimigo Oculto do Intestino (e da Pele)

Você já deve ter ouvido alguém com psoríase dizer: "Cortei o glúten e minhas manchas melhoraram". Muita gente (inclusive médicos) torcia o nariz, falando que "não há prova científica". Mas agora a coisa mudou.

Acontece que o glúten, em pessoas sensíveis (mesmo sem doença celíaca), irrita o intestino. Isso causa uma inflamação leve, mas constante, que libera um "SOS químico" no corpo — uma molécula chamada IL-6. E adivinha o que a IL-6 faz? Ativa a produção de hepcidina.

Traduzindo: o glúten inflama o intestino → o intestino manda sinais para a pele → a pele produz mais hepcidina → o ferro desregula tudo → a psoríase piora. É um ciclo vicioso que explica por que tirar o glúten ajuda tanto alguns pacientes.

O que Isso Significa na Prática?

  1. Teste o Glúten (mas sem Neurose): Não precisa virar celíaco da noite para o dia, mas experimente cortar o glúten por 3-4 semanas. Muita gente relata menos coceira e vermelhidão. Se funcionar, ótimo! Se não, pelo menos descartou.

  2. Cuide do Intestino como se Ele Fosse Sua Pele: Probióticos (kefir, iogurte natural), fibras (chia, linhaça) e alimentos anti-inflamatórios (peixes, cúrcuma) ajudam a acalmar a inflamação que dispara a hepcidina.

  3. Ferro: Nem pouco, Nem Demais: Exames de sangue podem mostrar se seu ferro está desregulado. Suplementos só com orientação — ferro em excesso piora o problema!

Por que a Medicina Tradicional Ignorava Isso?

Até pouco tempo, ninguém ligava o glúten à psoríase porque faltava o "elo perdido". Agora, com a descoberta da hepcidina na pele, tudo faz sentido. É como encontrar a peça que faltava no quebra-cabeça: a dieta afeta o intestino, o intestino afeta a pele.

Claro, isso não significa que glúten é o vilão para todos. Mas se você é do time que "sentiu na pele" a diferença ao mudar a alimentação, saiba que a ciência finalmente está do seu lado.

gluten psoriasisMuita gente (inclusive médicos) torcia o nariz, falando que "não há prova científica". Mas agora a coisa mudou.E Agora?

Se você está cansado de pomadas que só disfarçam o problema, talvez valha a pena olhar para o corpo como um todo. A psoríase não é só pele — é intestino, é ferro, é inflamação silenciosa. E às vezes, a solução está menos no remédio e mais no prato.

Ah, e não se esqueça: Converse com um médico antes de mudar dieta ou suplementos. Cada corpo é único, e o que funciona para um pode não servir para outro. Mas uma coisa é certa: ignorar a conexão entre o que você come e sua pele? Isso sim está ultrapassado.

 

Baseado no estudo "Skin hepcidin initiates psoriasiform skin inflammation via Fe-driven hyperproliferation and neutrophil recruitment", publicado na Nature Communications (2024).

 

  • Abboud, E., Chrayteh, D., Boussetta, N. et al. Skin hepcidin initiates psoriasiform skin inflammation via Fe-driven hyperproliferation and neutrophil recruitment. Nat Commun 15, 6718 (2024). https://doi.org/10.1038/s41467-024-50993-8