Era o ano de 1982! Um ano marcado por novos começos e esperanças renovadas. Eu, o quintanista Renato, um jovem cheio de sonhos e aspirações, iniciava meu estágio como médico interno no prestigiado Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Com o coração pulsante e os olhos brilhando de entusiasmo, eu via naquele lugar não apenas corredores e enfermarias, mas sim um campo vasto de aprendizado e oportunidades para "ser médico".

Como aprendiz de uma nobre profissão, minhas funções eram básicas, mas essenciais para construir o alicerce do que eu viria a ser. Feliz e dedicado, cada dia era um novo capítulo, uma nova chance de absorver conhecimento e experiência.

 
Foi em um dia aparentemente comum, no meu primeiro estágio no Setor de Moléstias Infecciosas, que a realidade da medicina se revelou para mim de uma forma que jamais esqueceria. Acompanhava uma paciente, uma garota cuja luta contra a doença eu presenciava há quase dois meses. Eu a via não apenas como um caso clínico, mas como um ser humano, uma vida que pulsava com esperanças e sonhos. Naquela tarde, sob o olhar atento dos familiares que visitavam, algo inesperado aconteceu. Minha pacientezinha começou a passar mal. O coração acelerou, não apenas o dela, mas o meu também. Juntamente com meu Residente orientador, iniciamos os procedimentos de Reanimação Cardiorrespiratória. Eu, seguindo cada instrução, cada comando, me vi na linha de frente da batalha pela vida.
 
Apesar de nossos esforços fervorosos, o destino tinha outros planos. Ela veio a falecer, deixando um vazio imenso e uma dor indescritível. Aquele momento, aquela despedida, gravou-se em minha alma. Com o coração pesado, coube a mim a tarefa mais árdua: comunicar aos familiares o desfecho. As palavras pesavam como chumbo, mas encontrei força para cumprir meu dever. Antes disso, reuni a equipe de enfermagem, esses anjos em jalecos, e pedi que fizéssemos uma oração de despedida. Em meio a olhares compreensivos e solidários, unimos nossas vozes em uma prece, um último adeus àquela alma que partia.
 

As palavras pesavam como chumbo, mas encontrei força para cumprir meu dever.

Nesse momento de profundo luto e reflexão, aprendi que ser médico vai além de curar; é tocar vidas, compartilhar dores e, às vezes, aprender a dizer adeus. Aquela experiência me transformou, me ensinou sobre a fragilidade humana e a força que reside na compaixão e no cuidado. E assim, sob a luz das estrelas, enquanto refletia sobre os mistérios da vida e da morte, eu, Renato, prometi continuar a jornada, carregando sempre comigo as lições daquele primeiro adeus. No coração, a certeza de que cada vida tocada, cada história compartilhada, era um passo em direção a ser o médico – e o ser humano – que eu aspirava ser.
 

No coração, a certeza de que cada vida tocada, cada história compartilhada, era um passo em direção a ser o médico – e o ser humano – que eu aspirava ser.